04/11/2009 01:17

Aline Calixto: grata novidade no samba

Ex-professora de Geografia e "mineira de coração", Aline Calixto é mais um talento que despontou para o sucesso via Lapa carioca. Vencedora do concurso "Novos Bambas do Velho Samba" de 2007, logo ela chamou a atenção das grandes gravadoras. E foi a Warner que a contratou para lançar um disco no início de 2009. Sem título, o trabalho mostra uma cantora madura, apesar da pouca experiência em gravações de estúdio.

No repertório composto principalmente por músicas de autores mineiros, destacam-se as faixas "Original" (Sandro Borges/Santão) e "Enfeitiçado" (Affonsinho). Mas Aline mostra que além de cantar, também compõe. Em "Cara de Jiló" ela concebeu a melodia para os versos de Juliano Buteco. O mesmo foi feito em "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro", de Makely Ka. Já "Você ou Eu" tem letra de Aline e música de Mestre Jonas.

Abaixo, a artista conta como está sendo esse princípio de carreira e explica o que mudou em sua vida após deixar o trabalho de professora para virar sambista contratada de uma grande gravadora. (Por Helder Maldonado)

Rádio Gravataí - Minas Gerais não tem tanta tradição em revelar grandes sambistas. Você está desmistificando essa máxima. Poderia explicar se de fato existe uma cena sambista no estado e como ela está estruturada?

Aline Calixto - Ao contrário do que algumas pessoas pensam, Minas é um estado que revelou grandes nomes da música brasileira dentro do segmento samba. Posso destacar gente como Ataulfo Alves, Ary Barroso, Geraldo Pereira, Clara Nunes, João Bosco e Mauro Duarte. Com relação à cena do samba no estado, em algumas cidades ela é mais forte, em outras ainda está se estruturando. No caso de Belo Horizonte, já existem algumas casas noturnas que dedicam sua programação musical ao samba. Em cidades do interior, como Uberlândia, o samba já se faz presente há um bom tempo.

Rádio Gravataí - Como você resolveu tornar-se cantora de samba, gênero que não tem revelado tantas mulheres como no passado?

Aline Calixto - Sou apaixonada pela música do nosso país, em especial o samba. É um gênero que me encanta desde menina. Sempre ouvi Cartola, Paulinho da Viola, Carmem Miranda, Beth Carvalho, Ary Barroso, Geraldo Pereira, Monarco, etc. Foi uma escolha natural, pois o samba já fazia parte do meu universo. Inclusive, durante a graduação, consegui unir o samba e a Geografia. Fiz um estudo sobre a identidade e representação do subúrbio carioca através do samba. Para mim, não basta só cantar. Gosto de estudar, pesquisar sobre os compositores, entender o papel social e cultural que esse gênero representa para o nosso povo.

Rádio Gravataí - Antes de ser cantora, você foi professora de Geografia. Como foi a escolha dessa profissão?

Aline Calixto - A Geografia sempre foi uma disciplina que me fascinou. Quando optei por esse curso, o objetivo era mesmo me tornar professora. Estar em contato direto com as pessoas era um pressuposto para qualquer área de trabalho que eu viesse a escolher. Mas no fundo, a música esteve presente, desde o início. Enquanto eu era professora, também realizava juntamente com outros amigos uma roda de samba que acontecia todas as quintas-feiras na cidade de Viçosa. Mas uma hora tive que optar, e a música falou mais alto.

Rádio Gravataí - Você acha que ter contato com grandes nomes do samba e escolher um bom repertório ajudou na sua popularização?

Aline Calixto - Ajudou, sim. Não só isso, mas uma série de fatores contribuíram para a estruturação do meu trabalho. Tenho uma equipe (da Casulo Cultura) que desde o início arquitetou e ajudou a construir essa história. A proximidade com os meus grandes mestres sempre foi muito benéfica. Monarco, Walter Alfaiate, Nelson Sargento, Wilson Moreira, Moacyr Luz, Luiz Carlos da Vila são muito queridos. Quanto ao repertório, ele conta com nomes totalmente desconhecidos e outros já consagrados. Esse mix é bacana porque revela novos trabalhos e também reafirma o talento de gente que já está nessa estrada há muito tempo.

Rádio Gravataí - Você é compositora desde quando?
Aline Calixto - Componho desde menina. Comigo, trata-se de um processo bastante intuitivo. A inspiração chega e eu registro tudo, seja numa folha ou no celular. O que eu não posso é deixar a composição escapar. Nesse CD, eu assino três músicas: "Cara de Jiló", em parceria com Juliano Buteco; "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro", com Makely Ka, e "Você ou Eu", com Mestre Jonas.

Rádio Gravataí - Como você descobriu os novos compositores que têm músicas inclusas em seu disco de estreia?

Aline Calixto - Sandro Borges, Santão e Toninho Nascimento foram apresentados por amigos em comum. Renegado, Rogê, Affonsinho e Edu Krieger foram indicados por minha empresária. E ainda conheci alguns pela internet, como o Rodrigo Santiago e o Douglas Couto. Isso sem contar os amigos que são parceiros musicais, como Makely Ka, Mestre Jonas, Juliano Buteco, Toninho Gerais e por aí vai.

Rádio Gravataí - Qual sua opinião sobre os novos sambistas que têm surgido na cena da Lapa carioca?

Aline Calixto - Acho importante, pois nomes como Teresa Cristina, Grupo Semente, Galloti, dentre outros, contribuíram substancialmente para a revitalização dessa cena. Lá continuam surgindo artistas, compositores e não só do Rio. A Lapa funcionou como um polo agregador de samba. Mas acho que ficar somente na Lapa também não dá, é preciso expandir as fronteiras, ocupar outros espaços, trocar experiências com outros estados. A música não tem limites.

Rádio Gravataí - Qual o resultado das suas músicas nas rádios. Ainda existe espaço para o samba mais cadenciado, que é o tipo que você faz?

Aline Calixto - Elas têm sido bem aceitas. O samba que faço é bem diversificado. No CD temos samba de roda, samba de quadra, samba de gafieira, samba mais amaxixado. Acho que todos esses estilos são apreciados. O mercado atualmente vem abrindo espaço interessante para esse gênero. Muitos dizem que o "samba está na moda". Eu acho que o samba sempre esteve, acontece é que agora temos uma maior abertura no mercado musical. Muita gente só consumia samba no período do carnaval, principalmente em outros estados. Atualmente esse quadro é diferente, temos espaço e divulgação para o samba o ano inteiro.

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